O entrevistado da ACBr deste mês é o doutor Antonio Celso de Noronha Goyos, conhecido no meio acadêmico e profissional como Celso Goyos. Natural de São José do Rio Preto, reside em São Carlos desde 1979, onde atua, desde então, como professor associado da UFSCar.

Ao longo desses anos, orientou dezenas de trabalhos de mestrado e doutorado que renderam inúmeras publicações relacionadas à Análise do Comportamento.

Doutor Celso é um amante da natureza e gosta de dizer que a vida é bela, mas é ainda melhor com Análise do Comportamento. “Bem melhor, bem mais bela”, reforça.

Conheça mais sobre o sócio emérito da Associação Brasileira de Análise do Comportamento:
ACBr: Qual a sua formação?
Dr. Celso: Sou graduado em Psicologia (Bacharel e Psicólogo) pela PUC (SP, 1975); mestrado em Applied Behavior Analysis, Departamento de Psicologia, Western Michigan University (EUA, 1978), sob orientação de Jack L. Michael, e doutorado em Psicologia Experimental pelo Instituto de Psicologia da USP (SP, 1986), sob orientação da Carolina M. Bori.

Fiz estágios de pós-doutorado na Universidade de Bangor, Reino Unido, 1988-1990, supervisionado por C. Fergus Lowe, com bolsa do CNPq e da Fundação Kronenhalle, de Luxemburgo, na Universidade do Kansas, em Parsons, KS, EUA, 1998-1999, com bolsa da FAPESP e da Fundação Fulbright, e na Universidade de Kansas, Lawrence, KS, EUA, 2000, sob supervisão de Richard R. Saunders, e no departamento de Psicologia da Universidade da California – San Diego, CA, EUA, em 2009-2010, sob supervisão de Edmund Fantino.

Por que escolheu PSICOLOGIA?
Desde o final do curso de segundo grau, na época conhecido como Científico, tive maior interesse pelas ciências básicas e aplicadas e, mais particularmente, apesar da falta de conhecimento, pelo comportamento humano. Descartei as opções profissionais mais comuns da época – medicina, engenharia, e comecei a contemplar uma profissão na época ainda bastante incipicente, que era a Psicologia. Muito pouco conhecimento tínhamos, como alunos do Científico, sobre ela, embora houvesse uma disciplina sobre psicologia, com ênfase em aspectos filosóficos.

Minha opção surpreendeu meus familiares, porque venho de uma família com grande número de médicos e advogados. Meu pai, de família tradicional portuguesa e conservadora, formado em odontologia pela USP, chegou a me perguntar como eu iria, como psicólogo, sustentar a mim e à minha família. Minha mãe, com o curso primário incompleto, mas de uma família italiana de profissionais na área de corte e costura, foi mais acolhedora e nada perguntou, apenas aceitou minha opção.

No início do curso de graduação tive interesse pela experimentação e parte clínica, sendo esta última a razão de ter optado pela PUC e não pela USP. Meu interesse pela experimentação começou a se concretizar através de um trabalho de iniciação científica no Departamento de Farmacologia, setor de Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina, nomes antigos dos atuais Departamento de Psicobiologia e Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), sob orientação do Prof. Dr. Elisaldo Carlini, o que gerou minha primeira publicação internacional: Alves, C. N., Goyos, A. C., & Carlini, E. A. (1973) Aggressiveness induced by marihuana and other psychotropic drugs in REM-sleep deprived rats. Pharmacology, Biochemistry and Behavior. Vol. 1(2), 183-189.

Como avalia sua carreira ao longo desses anos?
Logo após me graduar pela PUC-SP em Psicologia dei início à pós-graduação em Análise do Comportamento Aplicada no Curso de Pós-graduação em Applied Behavior Analysis da WMU (1976), inicialmente em nível de mestrado, com orientação do professor Jack. Meu interesse já era sobre linguagem e, especificamente, sobre a interpretação comportamental da linguagem desenvolvida por B.F.Skinner (1957).
Jack, desde aquela época, era o mais conhecido professor dentro desta perspectiva teórico/conceitual e, posteriormente, através de seus orientados, no fornecimento de base experimental para o comportamento verbal.

“Meu pai, de família tradicional portuguesa e conservadora, formado em odontologia pela USP, chegou a me perguntar como eu iria, como psicólogo, sustentar a mim e à minha família”

Entre 1977 e 1978, atuei também como assistente de pesquisa de Garry L. Martin na Manitoba School em Portage La Praire, província canadense de Manitoba, tendo como resultado publicado dois trabalhos em revistas internacionais.

Ao final do semestre de outono nos EUA, em novembro, quando estava com o doutorado em curso na WMU, fui surpreendido por um convite, vindo da professora Carolina M. Bori, através de meu colega da Manitoba School, Lawrence Williams, para prestar concurso na UFSCar, pois estava sendo criado o Programa de Mestrado em Educação Especial, mais tarde Programa de Pós-graduação em Educação Especial, com mestrado e doutorado, atualmente CAPES nível 6. Foi um convite desafiador, aceito com honra, e fui classificado em primeiro lugar, assumindo a vaga em 02 de fevereiro de 1979, como professor assistente. Transferi o doutorado para a USP-SP, sob orientação da Profa. Dra. Carolina M. Bori, e defendi a tese em 1986.

Quais os principais desafios e realizações?
Isso vale uma longa conversa, talvez uma live com a ACBr, teria imenso prazer em falar sobre esses aspectos de minha carreira. Foram muitos!

Posso citar os mais marcantes mais para o final de minha carreira, que foi a realização da Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA), uma modalidade lançada na época pela FAPESP, e que, segundo avaliação do Prof. Julio de Rose, meu colega na UFSCar, foi um divisor de águas na área. Foi a primeira ESPCA para a área de Psicologia e para as Ciências Humanas, dentro da FAPESP.

Este evento coroou o vínculo internacional do Instituto-Lahmiei Autismo, iniciado em 1976, e nos deu a oportunidade de mudar os rumos das pesquisas desenvolvidas no LAHMIEI, lançar uma revista internacional, de acesso livre pela internet, que não decolou, e o curso de pós-graduação em nível de especialização intitulado: ABA: Análise do Comportamento Aplicada ao Autismo e atrasos no desenvolvimento intelectual e da linguagem, hoje em sua 11ª turma, tendo formado até a presente data mais de hum mil alunas e alunos, com enorme impacto social, e desfrutando de ótima saúde, sem deixar de apresentar enormes desafios, sendo mesmo assim referência nacional na área.

Considero hoje o curso como meu projeto mais audacioso e talvez o mais bem sucedido de minha carreira.
Também publiquei o livro “ABA: Ensino da fala para pessoas com autismo” (São Paulo: EDICON, 2018), sobre a aquisição da fala e da linguagem complexa como fruto ainda da ESPCA e suas implicações.

Qual a sua relação e interesse pela Análise do Comportamento?
Interesse pela Análise do Comportamento desde 1972, sendo que dela nunca me desviei, apesar de ter tido um soluço no meu doutorado, rapidamente recuperado com o pós-doutorado com C. Fergus Lowe em Bangor, condado de Gwynedd, no norte do País de Gales, Reino Unido.

Ao final de 2027, ao completar 75 anos, devo me aposentar compulsoriamente da UFSCar. Pretendo continuar trabalhando na área, orientando pesquisa e disseminando o conhecimento sólido, baseado em evidências, em Análise do Comportamento, como fiz em toda minha carreira.

O foco principal de meu trabalho, de pesquisa, ensino e extensão, tem sido em análise do comportamento aplicada ao autismo, e não devo perder esse foco no futuro previsível.

A análise do comportamento aplicada tem se mostrado o conjunto de estratégias comportamentais com sólida evidência científica que produz os resultados mais vantajosos para os autistas.

Qual a importância da Análise do Comportamento para a sociedade?
Poderia resumir dizendo que a importância da Análise do Comportamento está apenas começando a ser sentida pela sociedade; com o avanço nas pesquisas sobre questões mais complexas que caracterizam o comportamento humano, por exemplo aquisição e desenvolvimento da linguagem e do pensamento, essa importância tende a ser gradativamente mais percebida.

Com prazer eu gostaria de sugerir ao leitor interessado que acesse o site www.lahmiei.ufscar.br e confira todas as produções científicas não só minhas, isoladamente ou em conjunto com meus alunos e colegas, mas de todo o nosso corpo docente do Instituto Lahmiei-Autismo.

Você pode fazer o download dessa entrevista em PDF clicando aqui>> Entrevista Dr Celso Goyos AGO 2022