“Não considere nenhuma prática como imutável. Mude e esteja pronto a mudar novamente. Não aceite verdade eterna. Experimente.”
Essa frase de Skinner é uma das favoritas da doutora Verônica Bender Haydu (68), profissional apaixonada pela produção de conhecimento por meio de pesquisas experimentais, que é professora da Universidade Estadual de Londrina (UEL).
A Dra. Verônica é sócia emérita da Associação Brasileira de Análise do Comportamento (ACBr) e nos concedeu uma entrevista exclusiva no mês em que celebramos o Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador (8/jul). Confira a trajetória e alguns dos trabalhos da pesquisadora que estão em andamento!
ACBr: Qual a sua formação?
Dra. Verônica: Sou graduada em Psicologia, prestei vestibular na UEL e fui aprovada para a primeira turma do curso, em 1972. Foi lá também, logo após a conclusão da graduação, que fiz a especialização em Metodologia do Ensino Superior. Depois, fiz Mestrado e Doutorado em Psicologia na Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutorado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). Além disso, sempre participei de cursos e eventos sobre os mais variados temas dentro da Psicologia.
Por que escolheu PSICOLOGIA?
No segundo ano da Escola Normal (atual Magistério), tive contato com a disciplina, o que despertou meu interesse. A decisão de que eu faria um curso de graduação e, portanto, o fato de que eu teria que fazer o vestibular, levou-me a fazer matrícula no Científico (Ensino Médio), uma vez que a Escola Normal não preparava para o vestibular e sim para o magistério. Frequentei os dois ao mesmo tempo, em turnos distintos.
E como foi sua trajetória?
Durante o 1º semestre de 1975, tive a oportunidade de desenvolver atividades de monitora junto à disciplina Comportamento Animal, do curso de Psicologia, o que fortaleceu meu interesse pelo magistério. Além disso, durante a graduação, minhas colegas e amigas Paula Inez do Nascimento Cunha (Paula Inês Cunha Gomide), Zeidi Trindade e eu, desenvolvemos diversas atividades científicas, as quais eram extracurriculares, mas que foram muito importantes para que eu me interessasse por fazer pesquisa. Os trabalhos consistiram na montagem de equipamentos, do planejamento e do desenvolvimento de pequenos projetos, com professores analistas do comportamento.
O meu envolvimento com essas atividades permitiu que, ao terminar o curso de Psicologia, estivesse absolutamente certa de que a Psicologia Experimental e a Análise Experimental do Comportamento (AEC), com suas bases no Behaviorismo Radical, eram minhas opções em termos de área de atuação e de abordagem.
“(…) desenvolvemos diversas atividades científicas, as quais eram extracurriculares, mas que foram muito importantes para que eu me interessasse por fazer pesquisa”
Ainda enquanto aluna do curso de Psicologia, cursando o último ano, fui juntamente com minha colega e amiga Paula Inez do Nascimento Cunha, convidada pela Prof.ª Dione de Rezende, para ministrar as disciplinas de Psicologia Experimental I e II, no curso de Psicologia do Centro de Estudos Superiores de Londrina (CESULON, atual UNIFIL). Esse foi, sem dúvida, um fato marcante em minha carreira, pois foi assim que me tornei professora e, de uma disciplina, cujo conteúdo era Análise Experimental do Comportamento.
Em março de 1977, fui selecionada para uma vaga de professor temporário (auxiliar de ensino) na UEL. A experiência de um ano em docência, em nível superior no CESLON, foi importante para que, em 1977, eu fosse aprovada na seleção interna do Departamento de Psicologia Geral e Experimental da UEL. Iniciei ministrando a disciplina “Controle de Estímulos”, no curso de Psicologia, e a disciplina “Psicologia Aplicada à Administração” para o curso de Administração de Empresas. A partir de 1978, passei a ministrar a disciplina “Psicologia Experimental”.
Qual a sua relação/interesse pela Análise do Comportamento (AC)?
A Análise do Comportamento esteve presente em minha carreira desde o início da graduação, pois meus professores eram em sua maioria analistas do comportamento. Eles tinham um grande interesse pela produção de conhecimento por meio de pesquisas experimentais, pelo que também me apaixonei.
Outro aspecto que me fez ter um interesse muito grande pela Análise do Comportamento foi o fato de essa abordagem descrever os fenômenos psicológicos com base em processos comportamentais. Durante toda minha carreira, ministrei, e ainda ministro, disciplinas relativas à Análise do Comportamento, principalmente Análise Experimental do Comportamento.
E qual a sua atuação em pesquisas relacionadas à AC?
Sou líder do grupo de pesquisa “Análise do Comportamento: implicações clínicas e educacionais” catalogado no Diretório de Pesquisadores do CNPQ. Atualmente, desenvolvo estudos vinculados a diversas linhas de pesquisa:
1. Análise do Comportamento: metodologia e tecnologia da intervenção.
2. Realidade e ambientes virtuais: aplicações clínicas, educacionais e empresariais.
3. análise do Experimental do Comportamento e Psicobiologia: modelos experimentais e fundamentações empíricas da investigação do comportamento.
4. análise do comportamento aplicada à educação ambiental.
5. Quais as contribuições desses estudos para a sociedade?
6. Os temas de pesquisa que desenvolvemos nesse grupo, têm foco em processos de aprendizagem e o desenvolvimento de tecnologias, visando a aplicabilidade a diferentes contextos, principalmente os da educação e da psicologia clínica.
Destacam-se temáticas como comportamento verbal e comportamento governado por regras, análise comportamental e educação ambiental, análise e proposição de recursos instrucionais e tecnológicos de ensino e de intervenção em clínica, análise de formação de classes de estímulos equivalentes em leitura e aritmética, análise funcional do comportamento em contexto clínico, aplicações da tecnologia de realidade virtual à clínica e à educação e análise experimental de práticas sociais.
Ressalto o trabalho que venho fazendo em relação ao tema educação ambiental e desenvolvimento sustentável, envolvendo pesquisa e extensão, o projeto Clube da Caçamba, que tem como objetivo divulgar em mídias sociais (Facebook e Instagram) conteúdos relativos ao tema.
O interesse específico por caçambas é devido ao problema ambiental gerado pelo descarte incorreto de resíduos sólidos de demolições e construções civis. Se a separação correta do resíduo das obras for feita, a maior parte dele pode ser reciclado.
Desenvolvido com estudantes de graduação e pós-graduação da UEL, consiste na manutenção das páginas Clube da Caçamba no Instagram e no Facebook.
Esse projeto já teve uma das pesquisas publicadas na Revista Brasileira de Análise do Comportamento no link: http://dx.doi.org/10.18542/rebac.v16i1.8884.
Você pode fazer o download dessa entrevista em PDF clicando aqui > ACBR Entrevista – Dra. Verônica B Haydu