Como temos recebido consultas de pais pedindo orientação para encontrar um Analista do Comportamento capacitado a conduzir uma intervenção ABA no autismo, damos abaixo alguns parâmetros para ajudar a orientar esta seleção.

A Associação Brasileira de Análise do Comportamento — ACBr congrega a comunidade analítico-comportamental brasileira, tendo mais de 200 doutores, professores e pesquisadores, como seus sócios plenos. É também afiliada (Associated Chapter) à Association for Behavior Analysis International — ABAI, a entidade que congrega e lidera a Análise do Comportamento no mundo (e aqui, vai um primeiro alerta: a mera condição de sócio dessas associações profissionais não estabelece, de imediato, uma qualificação. Somente Sócios Plenos (Full Members) precisam comprovar qualificações para serem aceitos). 

A sigla ABA significa Análise do Comportamento Aplicada (do inglês, Applied Behavior Analysis). Ela é o ramo aplicado de uma disciplina científica chamada Análise do Comportamento. ABA, portanto, não é simplesmente uma técnica ou um conjunto de técnicas. Uma intervenção baseada nos princípios da ABA, assim como qualquer outra intervenção profissional, requer qualificação do profissional que irá conduzi-la. A condução de intervenções ABA por profissionais não-qualificados pode comprometer gravemente o desenvolvimento do seu filho. Atualmente, há muitos profissionais oferecendo intervenções ABA, mas que não possuem qualificações mínimas para realizá-las. Um tratamento ABA não é a aplicação de técnicas específicas. É muito, muito mais do que isso e exige um profissional altamente qualificado que compreenda os princípios científicos que são a base da ABA e que seja fluente nas práticas aplicadas mais atuais para ser adequadamente conduzido.

Portanto, se você se decidiu por oferecer ao seu filho um tratamento ABA, popularmente chamado “terapia ABA”, ou ainda erradamente incluindo a palavra “método”, é extremamente importante que você atente para alguns pontos na escolha do profissional que irá conduzir o tratamento: a formação acadêmica do profissional, a experiência profissional e se este profissional se mantém atualizado em relação a novas técnicas e procedimentos estudados cientificamente. 

Fica aqui um segundo alerta: não tente você mesmo/a tratar o seu filho, ainda que você seja um Analista do Comportamento plenamente qualificado/a (aliás, se for este o caso, este alerta é redundante, pois você já sabe disso). O risco de viéses emocionais é muito grande para que você arrisque. Acredite: suas chances de manter a integridade do tratamento, condição essencial para o êxito, são pequenas. E se você não é plenamente qualificado por anos e anos de estudos supervisionados e prática, então talvez baste dizer que o tratamento do autismo é classificado internacionalmente como de alta-complexidade para que você mesmo/a possa avaliar suas chances de êxito.   

Abaixo está um conjunto de perguntas que você pode fazer ao profissional (e possibilidades de respostas) que foram elaborados com o objetivo de auxiliar você nesta importante escolha.

Quanto à formação acadêmica

Pergunte ao profissional: Qual é o seu curso de graduação?

  “Terapia ABA” refere-se a conhecimentos e técnicas derivados da Análise do Comportamento, que é uma abordagem psicológica e uma ciência. Portanto, ter graduação em Psicologia pode ser um critério importante na escolha do profissional que conduzirá a intervenção (embora haja profissionais com outras formações que possam ter se especializado em ABA). No Brasil, os cursos de graduação em Psicologia são os que apresentam maior grade de disciplinas em Análise do Comportamento.

Pergunte ao profissional: Você fez algum curso de especialização em Análise do Comportamento? Se sim, quais cursos?

Via de regra, é interessante que um profissional tenha, minimamente, um certificado de especialização em Análise do Comportamento e, se o curso de especialização foi específico na área de Autismo/ABA, melhor ainda. Mas isso depende do curso, depende da pessoa ou instituição que conduziu o curso e, mesmo na melhor das hipóteses, por si só é certamente insuficiente para assegurar uma qualificação plena, pela curta duração dessa formação.

Pergunte ao profissional: Você fez mestrado ou doutorado na área de Análise do Comportamento?

        Vale aqui o mesmo raciocínio para os cursos de especialização: quanto mais formal tiver sido a formação em Análise do Comportamento, maiores as chances do profissional estar realmente apto a realizar intervenções ABA. Você poderá encontrar facilmente a tese ou dissertação defendida pelo profissional no site do programa de pós-graduação o qual ele cursou. Se a pesquisa foi na área de intervenção ao autismo,  melhor ainda.

Quanto à experiência profissional

Pergunte ao profissional: Há quanto tempo você trabalha com pessoas diagnosticadas com TEA?

        De forma geral, quanto mais tempo de experiência, melhor. A comunidade internacional estima no entorno de 10 anos de experiência específica o tempo necessário para que um profissional possa ser considerado apto a conduzir um tratamento ABA eficaz. Destes 10 anos, no entorno de cinco anos devem ter sido praticados sob supervisão de um especialista na área, com título de doutor e reconhecido pela comunidade dos Analistas do Comportamento. Há cerca de 15 anos, já temos no Brasil um número suficiente de doutores capacitados a supervisionar um tratamento ABA para o autismo. Assim, o atendimento a este parâmetro deve ser um fator importante para a sua escolha.  

Quanto a manter-se atualizado

Pergunte ao profissional: Você costuma participar de eventos científicos de Análise do Comportamento?

Profissionais que participam ativamente apresentando trabalhos nas reuniões e eventos da Associação Brasileira de Análise do Comportamento — ACBr e da Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental — ABPMC devem ter a sua preferência,  quanto a eventos nacionais. Internacionalmente, os principais eventos são as reuniões da ABAI (Association for Behavior Analysis International)

Pergunte ao profissional: Quais cursos de formação você já fez na área de autismo?

Um profissional pode ser formado em psicologia, ter especialização/mestrado/doutorado em psicologia e ainda assim nunca ter estudado nada sobre Análise do Comportamento aplicada ao autismo. É importante, portanto, verificar se este profissional fez cursos de formação (cursos livres) relativos à área, novamente atento a quem ministrou o curso e à duração dele. Se o profissional, além de participar de cursos e eventos também realizar palestras, ministrar cursos em eventos acreditados da área e publicar artigos em revistas profissionais de melhor categoria, esse é mais um indicativo da qualidade de sua formação profissional.

Pergunte ao profissional: Com que frequência você lê artigos científicos sobre ABA?

Os sucessos das intervenções ABA vêm, sobretudo, do conhecimento científico produzido na área. Artigos científicos, mais que livros e sites da internet, são a principal fonte deste conhecimento. É inconcebível um profissional que não se mantenha atualizado lendo frequentemente artigos científicos com as novidades em seu campo de atuação. Profissionais que trabalham com ABA certamente irão citar o Journal of Applied Behavior Analisys (Jornal de Análise do Comportamento Aplicada) como fonte constante de estudos.

  Por fim, suspeite sempre do que você lê em livros não acadêmicos (leigos), em testemunhos e na internet de maneira geral. Nesses meios de divulgação, normalmente não há como comprovar a autenticidade e a veracidade da informação prestada. Não se deixe levar por propaganda institucional, recomendações pessoais sejam de quem for, ou indicações boca-a-boca. Verifique tudo minuciosamente.

Você está protegendo seu filho. Não se acanhe! Ao procurar conhecer a formação e as credenciais do profissional que está contratando, você estará fazendo a coisa certa. Nenhum profissional qualificado deverá se sentir constrangido com isso. Pergunte e verifique antes de contratar qualquer serviço ABA, incluindo cursos e palestras! Se desejar, mande-nos um e-mail com as informações coletadas e poderemos ajudá-lo/a nesta importante decisão.

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