Comemoramos hoje o aniversário de Burrhus Frederic Skinner, o mais conhecido dos pioneiros da Análise do Comportamento (como é mais conhecida) ou da Ciência do Comportamento (como seria talvez mais exato). Existem muitas vertentes pelas quais podemos conduzir este texto comemorativo, mas no desenvolvimento que aqui se dá, o propósito da escolha que fizemos ficará claro ao fim deste texto, esperamos.
A ciência do comportamento rompeu, pelas raízes, e daí radicalmente, com um paradigma que até então dominava os estudos do comportamento humano: o dualismo psicofísico e uma das suas consequências mais danosas para a construção de uma psicologia prática: o mentalismo. Por esse audacioso e revolucionário rompimento que fez, a Análise do Comportamento ofereceu a promessa de uma extraordinária inovação no conhecimento que a humanidade vem acumulando sobre o mundo e sobre a nossa vida nele.
Esta inovação foi o estudo do nosso próprio comportamento entendido como um fenômeno natural, aquiescente às mesmas estratégias de inquirição que, através da biologia, da física e da química, tantos progressos nos trouxeram na previsão e controle do nosso mundo físico. Para se avaliar o impacto social que este novo paradigma pode representar, basta considerar que, ao elucidar os mecanismos naturais através dos quais o comportamento se instala, se mantém e se altera, a ciência do comportamento oferece pela primeira vez na história humana uma possibilidade real de virmos a ser os sujeitos da nossa própria história: conhecendo essas variáveis, temos um meio prático para dispor contingências que, num momento futuro, poderão vir a ganhar controle sobre as nossas próprias respostas, governando-as na direção que desejamos.
São grandes os constrangimentos de um projeto como este. Uma inquirição naturalística implica aceitar as angustiantes dúvidas e incertezas que esse modo de conhecer necessariamente produz. Na história milenar dos esforços que a nossa espécie já fez para conhecer a si mesma, para responder à singela e sempre elusiva pergunta que orienta toda psicologia — por que fazemos o que fazemos? — B. F. Skinner, como tantos outros notáveis cientistas antes dele, carregou por longo tempo da sua vida o pesadíssimo ônus de estar certo sozinho; e não transigiu!
Nesta linha de compreensão, o cerne do legado que B.F. Skinner nos deixou foi a adesão absoluta à construção de um conhecimento psicológico naturalístico e a convicção inabalável na propriedade deste caminho. Vê-se isso no conjunto das suas obras onde mais claramente aparece o filósofo da ciência, o behaviorista radical, mas, de maneira mais precisa, na sua autobiografia. Lá se lê: “(…) não escrevi livros sobre livros, mas sim livros sobre a natureza”. E, num outro momento: “(…) tenho a convicção do triunfo final da Ciência do Comportamento, não por estar certa em suas formulações atuais, mas por ter indicado o caminho correto para as investigações”.
Além de nos deixar a unidade de análise do fenômeno do comportamento, a contingência de três termos (sim, escrevemos três) e, com ela a possibilidade de mensuração, característica sine qua nonde uma ciência natural, Skinner nos fez a gentileza de não nos deixar uma obra pronta.
As respostas que ainda não temos certamente não serão encontradas nas palavras dele nem de qualquer outro, mas sim nos laboratórios e, desse saber, Skinner não guardou a chave; ele simplesmente fez um excelente uso dela e, através da demonstração que nos deixou, nos indicou o caminho.
Eis aqui outra característica fascinante da nossa ciência: como uma ciência natural que é, a Análise do Comportamento não se propõe como uma escritura revelada, o “relato do mundo tal qual ele é” segundo Fulano ou Beltrano, mas como um projeto em construção, um conhecimento de cujo desenvolvimento e transformação cada um de nós pode participar; uma psicologia viva, sem dono, cujos principais desenvolvimentos e validação estarão sempre à espera dos testes que lhe proporá as novas gerações, que lhe fará o futuro!
Assim, em comemoração à data de aniversário deste notável cientista, neste dia fazemos a chamada para a Sessão de Pôsteres do I Congresso Nacional da ACBr. Temos especial carinho por esta atividade, porque é uma atividade mais diretamente voltada para os nossos estudantes, o nosso futuro! Se desejarmos homenagear e honrar Skinner de uma maneira duradoura e indelével, pensamos que a melhor maneira de o fazermos isso seria avançarmos nos estudos que ele iniciou. Skinner viverá enquanto viver a sua ciência e esta, para viver, precisará necessariamente das futuras gerações de estudiosos. Estes são todos nós, numa medida, mas mais ainda os nossos jovens. Bem-vindos ao I Congresso Nacional da ACBr!
Por Roosevelt R. Starling, Presidente da ACBr