Faleceu no dia 8 de janeiro de 2018, em Israel, a Dra. Margarida H. Windholz. Completaria 92 anos de idade no dia 23 de maio deste ano. Maggi, como era mais conhecida, formou-se em Psicologia, em 1961, na primeira turma do curso recém-iniciado na USP. Foi amiga de Fred Simmons Keller, um dos entusiastas da Análise Comportamental (AC) e um dos que assentaram as bases dessa abordagem psicológica no Brasil. Com Keller participou do primeiro curso de AC dado por ele no Brasil, em 1961,  e tanto se entusiasmou pela AC que passou sua longa existência aplicando e ensinando a aplicar tais princípios em trabalhos clínicos de psicologia e em educação escolar.

Foi pioneira em vários setores no Brasil, principalmente na aplicação dos princípios da Análise Comportamental para a educação de pessoas com necessidades especiais, notadamente as autistas, sendo autora do primeiro e volumoso manual prático publicado no Brasil para educar essas pessoas: “Passo a passo, seu caminho: Guia curricular para o ensino de habilidades básicas”. Desde que concluiu o doutorado na USP, em 1969, passou a trabalhar como professora no que se tornaria o Instituto de Psicologia da USP

Participou do grupo que batalhou e conseguiu, no dia 4 de abril de 1961, fundar a APAE paulistana. Sempre teve um intenso trabalho voluntário em várias instituições, por exemplo: Lar das Crianças da Congregação Israelita, Creche da Organização Feminina Israelita de Assistência Social – OFIDAS, Movimento Comunitário Estrela Nova, Sociedade Pestalozzi, Cruzada Pró-Infância e Lar -Escola São Francisco.

Seu principal legado é o livro “Passo a passo”, que atualmente se encontra na 3ª edição, revista e ampliada.

Era casada com Siegfried (Fridel) Windholz, falecido em 2015, com quem conviveu por 70 anos. Deixa os filhos Daniel, David, Ari e Moria, bem como netos e bisnetos.”. [Excertos do texto de Antônio Jayro da Fonseca Motta Fagundes. Reproduzido com autorização]

O preciso resumo biográfico acima diz bem o que Dra. Margarida H. Windholz fez. A ACBr desejaria, nesta pequena homenagem e reconhecimento, apresentar um pouco do que Maggi foi (assim a chamavam seus amigos e assim ela preferia). Nesse propósito, seguem dois pequenos relatos de analistas do comportamento que tiveram o privilégio de conviver com a pessoa, que a ambos cativou. Esperamos que cada um deles, à sua maneira e nas particularidades dos seus encontros, possa dar aos colegas uma visão da pessoa que perdemos.

Solidários à perda da família e considerando-se um membro estendido da comunidade que perde com este passamento, a ACBr a reconhece e a homenageia.

Leia abaixo a palavra de Sonia Meyer, analista do comportamento e Sócia Plena da ACBr, e de nosso Presidente Roosevelt R. Starling.


Maggi, agora você partiu, mas deixou um grande legado com muita gente que conviveu com você. Eu sou uma pessoa de sorte por ter convivido com você por tanto tempo e em várias situações.

Você foi em grande parte responsável pela minha carreira acadêmica. Foi você que foi me pedindo ajudas sobre comportamentos auto lesivos de crianças da CARE até que eu comecei a estudar o tema e me apaixonei por ele. Esse tema foi o que vingou no doutorado orientado formalmente pela Maria Amélia Matos da Psicologia Experimental da USP, e co-orientado informalmente por você. Foi uma honra tê-la tido como membro da minha banca.

Ao mesmo tempo eu colaborei na escrita do livro Passo a Passo, seu caminho, e este foi um tempo de encontros semanais produtivos que duraram uns dois anos.

Quando a Professora Edwiges Silvares me convidou a prestar concurso na USP, você me incentivou bastante, me aconselhou a tentar. Foi um bom conselho. Você conseguiu convencer-me que este era o meu destino. Já se foram quase 20 anos e sinto que pude contribuir na formação de terapeutas comportamentais e principalmente na formação de pesquisadores. Você foi coparceira do meu sucesso, inclusive com tua presença na banca do meu ingresso na USP.

Nossos caminhos se entrelaçaram muitas vezes, e você foi uma pessoa importante para mim. Tive o privilégio de trabalhar conjuntamente com você e em equipe em casos de crianças com problemas de desenvolvimento. Escrevemos textos juntas. Demos aulas juntas em vários lugares do Brasil. E pude compartilhar em várias ocasiões de refeições na tua casa com tua família e com outros convidados.

Muito obrigada por tudo isso! Muito obrigada por ter me considerado tua filha adotiva em tua inesquecível viagem de homenagens em setembro de 2016.

Sonia Meyer


Haverá, por certo, fartura de dados biográficos sobre a Dra. Margarida H. Windholz, que nos deixou perto de completar seus 92 anos. Sua trajetória acadêmica foi longa, marcante e conhecida por todos nós, estudiosos da Análise do Comportamento.

Dra. Margarida H. Windholz deixou-nos seu modelar livro, “Passo a passo seu caminho”, publicado uns 20 anos antes do tempo. Modelar. Preciso. Prático. Que agora encontra finalmente o interesse que merece.

Posso reconhecer e admirar a Dra. Margarida H. Windholz como uma de nossas lideres de primeira hora, mas confesso ter ficado mais impressionado com a Maggi, a pessoa.

A primeira vez que estive pessoalmente com Maggi foi na casa dela, almoçando. Através da Sonia Meyer, havia telefonado para marcar uma entrevista na qual desejava ouvir dela uma avaliação sobre meus trabalhos com autistas e recebi um convite para almoçar. Na casa dela. Assim, direto. Com um nó na garganta, fui. E daí começou uma boa amizade.

Numa oportunidade, pude convidá-la a participar de uma atividade que promovíamos na minha universidade, e lá despencou-se a Maggi de São Paulo para o interior das Minas Gerais. O tema que ela propôs tratar foi: O que aprendi no meu trabalho com autistas. Todos nós imaginávamos uma aula convencional, onde ouviríamos procedimentos e técnicas formidáveis. Maggi nos disse o que havia aprendido com os autistas e suas famílias.

Boas conversas tivemos, longos e-mails, longos Skypes. Sobretudo, após ela ter se mudado para o seu querido Israel. Religiosa, foi com ela que pela primeira vez tomei contato com a riqueza do judaísmo. E com as belezas naturais e culturais escondidas em Israel, que ela profusamente nos mostrava.

Maggi era judia convicta. Trabalhava ela e seus filhos junto com a comunidade árabe, promovendo a convivência harmoniosa e gentil, não entre judeus e árabes, que tal distinção ela não reconhecia, mas entre seres humanos. Maggi era judia convicta.

Ao escrever esse pequeno reconhecimento e homenagem, tenho presente o rosto da Maggy, emoldurado por seu cabelo sempre recatadamente penteado e pelo seu eterno sorriso de canto.

Precisarei de mais tempo para saber o que de fato consegui aprender com Maggi.

Já as saudades, minha amiga!

Roosevelt R. Starling